A importância das Comunidades Portuguesas para os Municípios
Ao longo dos tempos, a nossa Diáspora, teve sempre um impacto importante na economia portuguesa através das suas remessas. De acordo com informação divulgada pelo Banco de Portugal, através dos dados do boletim estatístico, as remessas enviadas pelos trabalhadores portugueses em 2018, ultrapassaram os 3500 milhões de euros. Mas, se recuarmos no tempo, em 2001, as remessas financeiras ultrapassaram os 3700 milhões e entre 1979 e 1982 chegaram a ultrapassar os 7000 milhões de euros (mais de 10% do PIB).
Efetivamente, as remessas da Diáspora sempre tiveram e continuam a ter uma importância capital, não só para o equilíbrio das nossas finanças, mas também, no investimento, no impulso da economia, nas exportações e até na folga dos bancos para o recurso ao crédito. Mas é preciso dar um salto qualitativo e começar a pensar a Diáspora não apenas como fonte de remessas, mas valorizando outros aspetos importantes, como a natalidade, pois, um terço das crianças portuguesas são filhos de emigrantes ou lusodescendentes a viverem fora de Portugal. Um outro aspeto importante, são as ligações afetivas e as raízes, verificando-se o desejo dos emigrantes investirem na sua terra natal.
Segundo dados divulgados, pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, nos últimos dois anos os empresários portugueses da Diáspora e lusodescendentes, lançaram um volume de investimentos em Portugal acima dos 100 milhões de euros, sobretudo, em projetos na área do turismo, criando cerca de uma centena de postos de trabalho, o que constitui assim um importante contributo para a riqueza nacional, e simultaneamente uma promissora oportunidade de negócio para o país em geral e para os territórios do interior e de baixa densidade.
Os efeitos destes investimentos têm um enorme impacto no desenvolvimento socioeconómico das regiões de origem dos empresários da Diáspora, que por amor à sua terra canalizam muito dos seus capitais e poupanças para as suas terras de origem.
O investimento e empreendedorismo da Diáspora constitui assim, não só um valioso ativo no desenvolvimento e coesão territorial nacional, mas também um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do nosso país, que tem nas suas comunidades espalhadas pelo mundo agentes económicos dinâmicos que tem enriquecido o país e contribuído fortemente para o aumento das exportações. De acordo com os dados do INE, em 2018 as exportações registaram uma desaceleração face a 2017, registando-se ainda assim um aumento de 5,3 %, voltando a acelerar em 2019, em igual período do ano, para 8,7 %.
Esta análise, serve para destacar este potencial enorme que é a Diáspora Portuguesa, que se reveste, hoje e cada vez mais, como uma oportunidade para Portugal. A Diáspora Portuguesa, é parte da solução, sobretudo para os Municípios, em especial os do interior e de baixa densidade, que sofrem cada vez mais os efeitos da interioridade, afetados pelas vincadas assimetrias regionais e a falta de coragem e vontade política dos sucessivos governos para apostar e investir no interior, onde a coesão territorial e social é apenas um “chavão” do discurso político.
Há muitos municípios que já perceberam este potencial e que estão a materializar estas oportunidades a favor dos territórios e das pessoas, criando dinâmicas económicas e sociais, gerando riqueza, investimento, inovação, fixação de pessoas e consequentemente, melhor qualidade de vida e bem-estar.
É de capital importância as Câmaras Municipais terem um portefólio das necessidades de investimento no Município e perceber quais são os investidores que estão interessados em investir. É ainda fundamental, as Câmaras Municipais darem a conhecer a força económica, as potencialidades e oportunidades do território/município, nomeadamente, às câmaras de comércio, às empresas, investidores e outros agentes económicos, para assim potenciar o investimento.
É urgente transformar as ideias e as vontades num plano estratégico e pô-lo em prática, colocando o foco e a persistência no investimento, no empreendedorismo e na inovação, onde os nossos emigrantes sejam parceiros e investidores, pois, é gente que ama a sua terra e nela quer investir, potenciando assim, o ativo estratégico do empreendedorismo da Diáspora.
O Município de Moimenta da Beira, onde eu resido, é o exemplo negativo de uma visão completamente diferente. Um executivo e uma gestão desligada do mundo e das pessoas, sem soluções, sem ideias, sem projetos, sem atitude e sem tomadas de decisão a favor do futuro da região, marcando passo entre uma festa e outra, perdendo-se oportunidades e desprezando este enorme potencial que é a nossa Diáspora. Citando William James, “Quando você precisa tomar uma decisão e não toma, está tomando a decisão de não fazer nada”.
Contrariamente, Municípios vizinhos, por forma a poder comparar o que é comparável, estão exatamente num caminho de tomar decisões e atitudes pro-ativas, onde a Diáspora Portuguesa faz parte da solução e da visão estratégica para Município, para o seu crescimento e desenvolvimento.
Não tenho qualquer dúvida em continuar a afirmar que a nossa Diáspora Portuguesa, é um ativo cada vez mais importante, que deve ser potenciado e aproveitado a vários níveis, numa relação estreita de investimento, promoção, divulgação e valorização do território, fixação de pessoas, novas dinâmicas económicas, sociais e culturais, trilhando, naturalmente, caminhos diferentes para alcançar resultados diferentes, pois, “Para chegar onde a maioria não chega, é preciso fazer algo que a maioria não faz” (Bill Gates).
Fica aqui a reflexão e o desafio…e um forte abraço à nossa Diáspora Portuguesa, verdadeiros heróis e embaixadores de Portugal no mundo.
José Governo
(Professor/Formador e Consultor)